Indra é o deus do céu no Hinduísmo, filho de Aditi (deusa mãe dos Adityas, grupo de deuses que sustentam toda a existência) com o sábio Kashyapa (pai dos Devas, Asuras, Nagas e de toda a humanidade). Nos Vedas, Indra é o rei dos Devas. Ele também é associado ao clima e ao fluxo dos rios.
Indra é a principal divindade no Rigveda. Cerca de 250 hinos lhe são consagrados, em comparação com 10 endereçados a Varuna e 35 simultaneamente a Mitra, Varuna e aos Adityas.
Ele é celebrado como herói e modelo exemplar para os guerreiros. Indra é aquele que mata o grande mal simbólico chamado Vritra, que obstrui a prosperidade e a felicidade da Terra.
Vritra era um demônio, um dragão gigantesco que personificava a seca, daí o porquê de se dizer no Rigveda que ele roubou as águas da terra e as “escondeu” no submundo (no “oco das montanhas”). Indra destrói Vritra e suas “forças enganadoras” com seu vajra (“raio”), parte-lhe a cabeça e liberta as águas, que se espalham em direção ao mar “como mugidoras vacas”.
Assim, traz a chuva novamente para a humanidade e se afirma em seu papel como divindade relacionada ao clima, como demiurgo e fecundador, personificação da exuberância da vida, da energia cósmica e biológica.
O combate de um deus ou herói (que normalmente representa a ordem) contra um monstro ofídico ou marinho (que normalmente representa o caos) constitui, como se sabe, um tema mítico bastante relacionado à cosmogonia, à inauguração de uma nova era ou ao estabelecimento de uma nova soberania. A luta de Indra com Vritra no Rigveda rima com a luta entre Rá e Apófis, entre Ninurta (deus sumério) e Asag, Marduk e Tiamat, Zeus e Tífon, e Thaêtaona (herói iraniano) e Azhi-Dahaka (dragão de três cabeças). Nesse sentido, Indra também é arquétipo das forças genesíacas.
Todo mito é multivalente. O que esses arquétipos cosmogônicos simbolizam, no final das contas, é o triunfo da vida contra a esterilidade da morte, que vem de um esforço combativo. É impressionante como estes mitos, além de rimarem entre si, rimam também com a ideia do nascimento. Nascer é também uma luta. É sair de um lugar escuro e aquoso. O próprio cordão umbilical, que deve ser cortado, assemelha-se a um monstro ofídico. O nascimento de uma criança é também um arquétipo das forças genealógicas e da violência cosmogônica: existe luta, existe separação, existe choro, existem cordões que devem ser cortados. Por isso, o sacrifício de crianças é universalmente entendido como poderoso, pois representa a destruição de absolutamente tudo.