Deus como um passaro na religião do livro

Mirecea Eliade afirma que a religião de Israel é, sobretudo, a religião do Livro. Para ele, isso significa que, além das tradições orais antigas, a religião de Israel é uma fé que foi reinterpretada, corrigida e registrada ao longo de vários séculos e por meio de diferentes meios.

Isso confere um poder especial à “palavra” no status divino de ação criadora. A própria criação, entendida como a separação da ordem do caos (tôhu wâ bôhû), é realizada pelo poder da palavra de Deus. Deus cria o mundo ao dizer “haja luz”. As etapas subsequentes da criação sempre ocorrem pela palavra.

Outra característica notável de Deus, reconhecida pela religião de Israel, é sua liberdade, poeticamente transmitida na descrição de uma paisagem. Deus é um “espírito que pairava sobre a face das águas”. Perceba que não se trata de uma entidade que enfrenta uma criatura marinha em um confronto cosmogônico, como é comum nos mitos de criação. Não há nenhum feito espetacular como o combate entre Marduk e Tiamat.

Embora o cenário de uma luta possua sua própria beleza, nada se compara, para mim, à descrição de profunda sensibilidade etérea que encontramos no Gênesis.

Em muitas tradições, o Criador é imaginado na forma de um pássaro. No entanto, no Gênesis, não há nada que sugira que Deus seja de fato um “pássaro” mas “como um pássaro”.

Deus é descrito em termos poéticos, como um espírito que transcende a “massa aquática do caos” e é livre para mover-se e pairar.

Deus “voa” como um pássaro, embora não seja um.

Essa é uma visão que rompe as barreiras de transcendência e materialidade, oferecendo uma perspectiva única sobre a criação e a natureza do sagrado.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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