Agni é uma divindade hindu. A palavra “agni” é sânscrito para “fogo” (nome), com a mesma origem do latim “ignis”.
No hinduísmo, ele é um deva, o segundo em poder e importância na narrativa védica, apenas ultrapassado por Indra. Ele é gêmeo de Indra e, assim, filho de Dyaus Pita e Prithvi. Em outra versão, ele é filho de Kasyapa e Aditi, ou de uma rainha que escondeu sua gravidez do marido. Ele possui dez mães, ou dez irmãs, ou dez criadas, que representam os dez dedos do homem que inicia o fogo. Ele possui dois pais: estes representam os dois paus que, quando friccionados de modo intenso, criam fogo. Alguns dizem que ele destruiu seus pais ao nascer, porque não poderiam cuidar dele. É casado com Svaha e pai de Karttikeya através de Svaha ou Ganga. Ele é um dos Ashta-Dikpalas, encarregado de guardar e representar o Sudeste.
Os sacrifícios a Agni vão para as divindades porque Agni é um mensageiro dos deuses e para os deuses.
Ele também é o arquétipo do sacerdote e é chamado de sacrificador ou “capelão” (purohita). Por isso, os hinos que lhe são consagrados estão no começo do Rig Veda.
O primeiro hino começa com a seguinte estrofe: “Eu canto Agni, o capelão, o deus do sacrifício, o sacerdote, o fazedor de oblações que nos cumula de dádivas”.
Os hinos dedicados a ele enfatizam suas faculdades espirituais de grande inteligência e clarividência.
Ele é eternamente jovem, porque o fogo é reacendido todos os dias; mas, ele também é imortal.
Em algumas histórias sobre os deuses hindus, Agni é aquele enviado para a frente em situações perigosas.
Agni expulsa as trevas, afasta os demônios e protege contra as doenças e a feitiçaria.
O Rigveda frequentemente diz que Agni eleva-se das águas ou que reside nas águas. Ele pode ter sido originalmente o mesmo que Apam Napat.
Embora os sacrifícios védicos de fogo (yagya) tenham desaparecido em grande parte do hinduísmo, Agni e o sacrifício de fogo ainda fazem parte do ritual de qualquer casamento hindu moderno, onde Agni é considerado a principal testemunha (sakshi) do casamento e guardião da santidade do matrimônio. De fato, sem as tradicionais sete voltas em torno do fogo sagrado, perante a atual lei matrimonial hindu, o casamento é considerado nulo.
No zoroastrismo, ele é Atar, literalmente, fogo, que simbolicamente representa a força radiante e criadora de vida de Ahura-Mazda. No budismo indo-tibetano, ele é um lokapala, guardando o Sudeste.
Segundo Mircea Eliade, o culto do fogo doméstico já era importante desde a pré-história e acredita-se que o culto de Agni remonta a épocas bem primitivas.
O gênio indiano nada mais fez do que elaborar, articular e sistematizar essas descobertas imemoriais sobre o significado do fogo numa projeção transcendental.
Agni é descrito ao mesmo tempo por suas epifanias ígneas e por atributos divinos específicos. Evocam-se seus “cabelos de chama”, sua “maxila de ouro”, o barulho e o terror que ele produz.
“Quando te lanças sobre as árvores como um touro voraz, o teu rastro é negro” (RIG V. I, 58,4).
Apesar de ser onipresente na via religiosa, Agni não dispõe de uma mitologia apreciável. Entre os raros mitos que lhe dizem respeito diretamente, o mais célebre é o de Mâtarisvan, que trouxe o fogo do Céu.
Mâtarisvan muitas vezes é interpretado como o avatar do deus Agni, sua máscara.
A lenda conta que Mâtarisvan trouxe o fogo celestial, que estava escondido ou protegido pelos deuses, para a terra, tornando-o acessível aos seres humanos. Esse ato de trazer o fogo é visto como um presente divino que possibilitou a civilização e o desenvolvimento humano. Na mitologia, o fogo não é apenas uma ferramenta prática, mas também um símbolo de conhecimento, pureza e comunicação entre os deuses e os homens, especialmente através dos rituais de sacrifício (Yajna).
Mâtarisvan também é, por vezes, associado ao vento ou à energia vital, sugerindo sua natureza como uma força dinâmica e vital que permeia o cosmos. Esta associação reforça a ideia de que Mâtarisvan não é apenas o portador do fogo físico, mas também de uma energia espiritual essencial para a vida e para os rituais religiosos.
O mito de Mâtarisvan na mitologia hindu tem uma relação interessante com o mito de Prometeu na mitologia grega. Ambos os mitos envolvem figuras divinas que trazem o fogo aos humanos, permitindo-lhes avançar em termos de civilização e conhecimento. Ambos os mitos enfatizam que o fogo é um presente essencial para o desenvolvimento da civilização humana. O fogo não é apenas uma ferramenta prática, mas também um símbolo de progresso e iluminação.
Fora isso, seu papel no plano cosmológico é aparentemente confuso, mas importante. Por um lado, ele é chamado “Embrião das Águas” (âpam garbhah, III, I, 12-13) e é evocado projetando-se da matriz das águas. Por outro lado, julga-se que ele penetrou nas águas primordiais e as fecundou. Trata-se certamente de uma concepção cosmológica arcaica: a criação pela união de um elemento ígneo (fogo, calor, luz, sêmen viril) e do princípio aquático (águas, virtualidades, soma).