Enquanto apascentava os carneiros de Jethro, Moisés chegou, pelo deserto, ao Horebe. Foi ali que viu “uma chama de fogo que saia do meio de uma sarça” e ouviu alguém chamá-lo pelo nome. Na sua apresentação, a voz na sarça dizia quem era: Ehyeh-Asher-Ehyeh, “Eu Sou o Que Sou”.
Essa apresentação estabelece na própria definição simbólica de vários aspectos do divino. “Eu Sou o Que Sou” é o resumo da perfeição, da totalidade, da infinitude, do mistério e da autossuficiência.
A sua própria aparição como “sarça ardente” é significativa, pois remete a liberdade de Deus se manifestar da forma que melhor lhe convém, pois ele é soberano nas formas. Podemos dizer que o mundo inteiro já existia nele antes da existência e que tudo lhe pertence.
O fogo ainda não consome a sarça, simbolizando que ele detém a soberania da matéria, das leis da física e das contingências de causa e efeito – pois foi Ele Quem as criou.
As leis de conservação da massa, de energia, a lei de Hess, a cinética química, a temperatura de ignição e a lei de Avogrado relacionadas ao processo de combustão são ignoradas, transformadas, manipuladas e traduzidas em símbolos e mensagens.
Ele é o único alquimista possível e também o maior dos poetas.
“Eu Sou o Que Sou” é uma demarcação do criador enquanto criador e sua sua criação como um “outro por excelência”, como bem disse Mircea Eliade (fazendo uma citação ao teólogo luterano Rudolph Otto).
A sua ação no mundo e tudo que ele faz aqui deveria ser sempre reinterpretada na especulação condizente de sua natureza. Deus tem compaixão, ódio, pesar, alegria e vingança – mas não é a compaixão humana, o ódio humano, o pesar o humano, a alegria humana e a vingança humana.
Ao longo da história perdemos um pouco a noção real do que significa um Deus. Quando Deus se fez homem na figura de Jesus Cristo ele não se tornou “menos Deus”. Não temos o direito de “humanizá-lo” no sentido de diminuir sua natureza em proporção a nossa.
Os hindus entendem isso melhor que nós hoje. Uma legião de deuses “nietzschianos”, violentos e vingativos sendo entendido como benevolentes, compassivos e dignos de culto.
Pintura: Moisés e a Sarça Ardente, William Blake.