A enterro de uma pessoa é um ritual religioso muito mais antigo do que qualquer religião formalizada.
Mircea Eliade dedica uma atenção especial aos vestígios megalíticos europeus, que possuem significados funerários, ao mesmo tempo em que interpreta as recorrências semelhantes desses mesmos gestos em outras culturas.
Embora a cremação e a submersão ainda coexistam com o ritual do enterro, a ideia central persiste: é necessário cobrir o corpo, seja com terra, fogo ou água.
Entre os vários significados desse gesto, uma imagem é persistente: a do útero. Enterrar o corpo é como empurrá-lo novamente para o útero.
O fim se torna novamente o começo através da ritualização simbólica de um “nascimento ao contrário”.
O útero evoca a fertilidade, e a fertilidade evoca o sexo.
É interessante notar que havia até ritos sexuais ligados ao contexto funerário.
Nos menires funerários da França, as mulheres jovens praticavam o “deslizamento” (deixando-se deslizar ao longo de uma pedra lisa preparada para isso) e a “fricção”, assemelhando-se a um ato sexual.
A ideia desse ato é vitalizar o símbolo fúnebre do menir como reservatório de vitalidade, pois o sexo, nessa época “arcaica” estava relacionado nascimento, fertilidade e vida.
Por isso, o hipogeu de Malta, uma necrópole, possui claramente a forma de um útero.
A proximidade do túmulo com o útero remete a uma necessidade de revitalização social e perpetuação ao longo do tempo. Havia uma clara noção de que uma sociedade só sobrevive quando nascem mais pessoas do que morrem.