Há mais de um século, os cientistas têm se esforçado para identificar a pátria de origem dos indo-europeus, decifrar sua história, proto-história e esclarecer suas fases de migração. A dificuldade em encontrar essas respostas se deve ao processo conturbado das suas irrupções, que começaram entre 2300 e 1900 antes de Cristo e só terminaram no século XIX da nossa era.
A busca pela pátria original dos indo-europeus tem se concentrado no norte e centro da Europa, nas estepes da Rússia, na Ásia Central, na Anatólia, entre outras regiões. Atualmente, há um consenso em localizar o centro de irradiação dos indo-europeus nas regiões ao norte do Mar Negro, entre os Cárpatos e o Cáucaso. Essa conclusão baseia-se em evidências linguísticas, pois há um vocabulário comum nessas regiões para certos animais (lobo, urso, ganso, salmão fluvial, vespa e abelha) e árvores (bétula, faia, carvalho e salgueiro), indicando uma localização em uma zona temperada.
Identifica-se especialmente no norte do Mar Negro, entre o quinto e o terceiro milênio, a cultura dos tumuli (kurgan) como originária. Também se reconhece sua expansão para o oeste até o Tisza, sua penetração na Europa Central, na Península Balcânica, na Transcaucásia, na Anatólia, no norte do Irã e, posteriormente, no norte da Europa, na região do Egeu e no Mediterrâneo ocidental. Se vocês abrirem um mapa e desenharem setas indicando o possível sentido dessas migrações, verão que acabaram desenhando um sol.
Durante grande parte de sua história, os povos indo-europeus foram guiados por conquistas e assimilação cultural. Nesse processo, a lembrança de suas origens se diluiu e se multiplicou. A grande ironia é que, quanto mais perdiam sua pureza original, mais se tornavam obcecados por ela.
Em certo sentido, a história do povo indo-europeu foi muito parecida com a dos israelitas. No perfil das sociedades, ambos misturavam características de sociedades agrícolas, pastoris, nômades e militares.
Segundo Mircea Eliade, ambos também compartilhavam a crença no papel capital de uma hierofania celeste. A ideia de “deus” em ambos revelava-se no entendimento de uma sacralidade que “estava no céu” e era percebida como uma soberania paterna. Deus era um pai e estava no céu.
Podemos citar Donar, Taranos, Perun, Perkunas, Surya, Vayu e inúmeros outros. Todo elemento atmosférico era divinizado para os indo-europeus, desde o trovão aos ventos, e todos os deuses associados a esses fenômenos estavam em hierarquias superiores aos deuses relacionados à terra.
Com tantas similaridades entre israelitas e indo-europeus, as diferenças tornam-se mais evidentes.
Os israelitas foram mais eficientes em preservar sua história e sua identidade, e isso, acredito eu, se deve a dois fatores principais.
Primeiro, os israelitas não distinguiam sua história de uma narrativa mítica, que era documentada, corrigida e anexada ao que lhes era próprio.
Segundo, havia entre eles e Deus uma comunhão mais intensa, que não se vinculava a lugares específicos, pois entendia-se, em um de seus mitos mais populares, o dilúvio universal, que seu Deus seria capaz de destruir todos os lugares e salvar um homem e sua família. Não era um Deus vinculado à terra ou a um povo, mas o “Deus de Abraão, Isaac e Jacó” – em suma, o Deus de pessoas.
Pessoas tem real identidade, lugares e povos tem, no máximo, características.
Imagem: Kurgan, Highlander (1986)