O denominado Novo Império (1539-525 a.C.) no Egito representou o último estágio da divisão política na Civilização Egípcia. Teve início após a reunificação dos egípcios que, na época, estavam sob o domínio estrangeiro. Este foi um período marcado por intenso militarismo, considerado o auge das conquistas, riquezas e poder.
Antes e mais importante que tudo isso, foi um período onde os teólogos finalmente conseguiram associar Rá a Osiris.
Como venho dito a alguns dias, anteriormente, os personagens cósmicos da religião egípcia tinham autonomia definida. Ao longo dos anos, alguns desses personagens foram esquecidos no culto diário, enquanto outros foram valorizados.
Contrariando os teólogos, Osiris parecia ser mais cultuado que Rá, embora Rá nunca fosse esquecido.
Com o tempo, Rá e Osiris começaram a se confundir. Segundo Mircea Eliade, ocorreu um processo duplo: a “osirificação de Rá” e a “solarização de Osiris”, representando, em última instância, a complementaridade definitiva da vida e da morte.
Lembremos que Osiris é um deus assassinado por Seth* e Rá é a fonte de toda vida. A integração de ambos possibilitou um sistema dialético de crenças entre vida (tese, Rá) e morte (antítese, Osiris), ressignificando ambas numa ideia de “passagem” (síntese, caminho).
A beleza poética do Livro dos Mortos é essa.
A síntese é o assassinato de Osiris se entrelaçando ao curso eterno e invulnerável do Sol.
Osiris tornou-se o Juiz dos Mortos, desempenhando o papel central no dramático processo iniciático da “pesagem do coração”, no qual o coração do réu é colocado em uma balança ao lado de uma pena.
Em resumo, a morte deixou de ser o fim e tornou-se o início – ao mesmo tempo em que se abria a possibilidade de uma “segunda morte”.
*Pra mim, Osiris e Seth são Abel e Caim deificados