A civilização Harapeana

Uma das maiores e mais antigas civilizações em extensão geográfica do mundo é uma civilização que muita gente nunca ouviu falar: a civilização Harapeana, que, em 3500 A.C., se estendia numa área de 1,25 milhões de km², abrangendo o Paquistão, a Índia e o Afeganistão, tendo no seu auge uma população de 5 milhões de pessoas.

Como bem disse o geógrafo Paul Wheatley, toda cidade foi fundada com uma intenção religiosa. Isso, segundo ele, é perceptível nas primeiras cidades na China, na Mesopotâmia, no Egito, na América Central etc. As mais antigas cidades foram construídas em torno de santuários, isto é, nas vizinhanças de um espaço sagrado.

A civilização harapeana não fugia desta regra. Toda ela foi construída ao redor de um templo.

É interessante perceber a ordem das coisas para notarmos que a manifestação de nossa inteligência tem um núcleo sagrado.

A metalurgia, o sistema de escrita e os padrões de medida das primeiras civilizações foram originalmente desenvolvidos para cerimônias religiosas e, acidentalmente, foram percebidos como ferramentas práticas do dia-a-dia.

Esse entendimento de Mircea Eliade virou do avesso tudo o que eu entendia sobre a ideia religiosa. A tecnologia, a ciência e a filosofia são filhas da ciência religiosa. Todo aquele papo de contradição entre essas coisas não sobrevive à averiguação arqueológica.

Partindo desse princípio, vemos que a necessidade de ordem, que é imperativa do pensamento religioso, transborda na sociedade.

A civilização harapeana foi a primeira do mundo a desenvolver a ideia de um projeto urbano.

As cidades possuíam avenidas largas e quarteirões geometricamente exatos. Todos os tijolos eram padronizados também.

Além disso, toda cidade era atendida por escoamento de água que atendia perfeitamente todas as casas.

Essas mesmas casas também possuíam um sistema de vaso sanitário ligado a um canal de esgoto comum, coberto com lajes de pedra.

O que intriga nessa civilização é que ela não tinha nada que indicasse um centro de poder político centralizado, como palácios ou qualquer coisa do tipo. Também não havia sinais de grande distinção social, como objetos de adornos pessoais que poderiam distinguir classes privilegiadas, evidenciando que fosse uma sociedade igualitária.

Haviam as figuras religiosas, a população e os representantes comerciais, que viajavam para o Egito e para Creta comercializando produtos agrícolas, marfim, tecidos de algodão e pedras preciosas.

É quase um contrassenso pensar nisso, mas a civilização Harapeana era planificada, organizada e igualitária sem Estado ou governo.

A preocupação deles era com o espaço sagrado. Cuidando disso, tudo o mais se organizava espontaneamente.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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