A terceira Écogla de Virgílio conta sobre a rivalidade entre dois pastores, Menalcas e Damoetas.
Depois de trocar insultos, os dois homens decidem fazer um concurso de canto, para o qual cada um oferece um prêmio (Damoetas uma bezerra e Menalcas um par de taças ornamentadas).
Um vizinho, Palaemon, que aparece por acaso, concorda em ser o juiz.
A segunda metade do poema consiste no concurso, em que cada um dos dois competidores, por sua vez, canta um dístico e o outro finaliza com outro (totalizando doze).
A regra era que o segundo cantor deveria responder ao primeiro em igual número de versos, sobre o mesmo assunto ou semelhante, e também, se possível, mostrar força ou poder de expressão superior.
O clima de disputa vai se orientando em atitudes rudes improvisadas, uma característica muito popular das festividades das aldeias romanas, mas se desenvolvendo num painel ambíguo de hostilidade, brincadeira lúdica e até camardagem.
A narrativa de um pastor precisa se anconrar na narrativa anterior do oponente para que ela mesma possa fazer um sentido, dissolvendo assim a falsa contradição entre oposição e completude.
Considerando que Virgilio era também matemático, este poema tem uma interpretação cosmológica interessante. O número total de disticos da disputa é 12, que astrologicamente representa a completude. O empate representa (ou reforça) a ideia do equilíbrio. A disputa em si, num conjunto menor, representa a imagem mítica de duas mãos (opostas) tecendo um fio narrativo (que representaria o próprio destino em si).
Além da disputa Virgilio desenhava um amplo painel cosmológico, no qual utiliva-se destes personagens (que são até cômicos) para representar a dinâmica da própria natureza, tal como ele a via.