Écloga I é o primeiro poema das Éclogas de Virgílio.
Nesta Écloga, ocorre um diálogo entre dois pastores: Melibeu e Títiro.
De acordo com algumas interpretações, Títiro seria uma representação de Virgílio, pois é descrito como repousando tranquilamente nos campos entre suas ovelhas, enquanto Melibeu, recém-expulso de sua terra, conduz seu rebanho cansado e desafortunado à sua frente.
Neste poema, em forma de diálogo, Virgílio contrasta o destino desses dois pastores.
Geralmente, acredita-se que o poema se refere às expropriações de terras que ocorreram após a derrota de Bruto e Cássio em Filipos (42 a.C.), em regiões próximas à cidade natal de Virgílio, Mântua, e em outras áreas. Isso visava o assentamento de soldados aposentados após a guerra civil.
O pai de Virgílio chegou a ser expulso de sua fazenda nos Andes, e Virgílio solicitou ajuda a um homem influente na política romana, que o aconselhou a ir a Roma e fazer um apelo pessoal a Otaviano. Seu apelo foi bem-sucedido, e suas terras não foram confiscadas.
Se a interpretação autobiográfica do poema estiver correta, é interessante notar que o próprio poeta se coloca em uma situação privilegiada diante da desgraça de seu interlocutor, sem demonstrar remorso.
Não há piedade, apenas a observação da vida como ela acontece.
A história de sofrimento de um homem hoje tornou-se uma espécie de “etiqueta” que valida sua posição na história. Parece que todo indivíduo bem-sucedido tem uma história trágica e uma trajetória heróica de superação.
É interessante como, sendo verdade ou não, esse fenômeno tem um apelo populista barato e é amplamente usado por homens de poder como uma forma de manipulação para diferenciar os privilegiados dos menos afortunados, rotulados como “a casta inferior”, os desafortunados, azarados, amaldiçoados pelos deuses.
Na época de Virgílio, o homem afortunado, com sorte, era também considerado um homem abençoado pelos deuses, e a tragédia da vida, passada ou presente, não era mencionada com o orgulho que vemos hoje, mas sim vista como uma verdadeira tragédia.
Imagem: Écogla I – William Blake