Gatos e o Folclore Japonês

Estudar o folclore é como seguir trilhas até onde se pode chegar, sabendo que nunca se alcançará o destino final. Quanto mais aprofundamos as camadas do tempo, mais nebulosas as coisas se tornam. Deixamos de lado o que podemos comprovar e adentramos aquele reino nebuloso das melhores suposições.

Considere o fato de que gatos existem no Japão. Ninguém sabe exatamente quando e como eles chegaram lá. A melhor suposição é que viajaram pela Rota da Seda, vindo do Egito até a China e a Coreia, e depois cruzaram os mares. Eles chegaram como caçadores de ratos, protegendo preciosos sutras budistas escritos em pergaminhos, ou como presentes valiosos negociados entre imperadores em busca de favores. É muito provável que essas duas situações tenham ocorrido em momentos diferentes.

Uma das principais atividades econômicas do Japão é a pesca, e os gatos, ao chegarem ao país, encontraram um lar perfeito e se multiplicaram. Em algumas ilhas, como Aoshima, na província de Ehime, há seis vezes mais gatos do que humanos. Embora seja evidente que esses gatos são amados, o Japão também nutre um certo receio em relação a eles, devido ao fato de não serem nativos do país.

Enquanto a sociedade japonesa conviveu com raposas (kitsunes) e guaxinis (tanukis) ao longo de sua evolução, os gatos possuem uma aura de virem de fora do mundo conhecido. Isso, somado à sua natureza misteriosa natural, capacidade de se esticar de maneira aparentemente sobrenatural, caminhar silenciosamente e ter olhos brilhantes que mudam de forma à noite, cria o cenário perfeito para despertar a imaginação temerosa.

As casas japonesas eram iluminadas principalmente por lâmpadas de óleo de peixe. Os gatos adoravam lamber o óleo, e à noite, sob a luz brilhante das lâmpadas, projetavam sombras enormes nas paredes, aparentando se transformar em criaturas gigantes. Isso alimentava a crença coletiva de que eles eram metamorfos.

A primeira aparição conhecida de um gato sobrenatural no Japão ocorreu no século XII, quando relatos descreveram um enorme gato de duas caudas, conhecido como nekomata, que se alimentava de humanos e habitava a floresta de Nara. O país possui uma longa e, por vezes, assustadora história de folclore envolvendo gatos sobrenaturais, desde metamorfos fantásticos e mágicos (bakeneko) até horrendos comedores de cadáveres demoníacos (kasha).

Havia também a crença de que os gatos tinham uma sociedade própria, saindo à noite com outros gatos para lugares misteriosos e retornando apenas ao amanhecer. Com o tempo, os gatos passaram a se assemelhar muito aos seus donos, observando atentamente tudo o que faziam. Isso levou à ideia de que, secretamente, eles imitavam os humanos. Surgiu a crença de que os gatos deixavam suas casas à noite, vestiam quimonos, bebiam saquê, fumavam cachimbo, divertiam-se com jogos de tabuleiro e tocavam o shamisen (ironicamente, um instrumento feito com tripa de gato) em festas selvagens antes de retornarem ao lar ao amanhecer.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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