“O Fabricante de Gorros” é um conto de Philip K. Dick publicado pela primeira vez em 1955 na revista Imagination.
Pelo título, parece um conto natalino, mas trata-se, na verdade, de uma ficção-científica ambientada num futuro distópico onde algumas pessoas com poder telepático (os chamados “teeps”) tentam erradicar seus oponentes políticos e ascender ao poder.
O poder telepático desses “teeps” consiste em fazer leituras mentais.
A única coisa que os impede de fazer uma leitura mental é uma liga metálica que foi descoberta por acidente. Essa liga metálica é distribuída e disfarçada de gorro por um fabricante contraventor que, por iniciativa política, tenta impedir a ascensão dos “teeps” ao comando geral da nação.
A intenção dos “teeps” é validar uma lei que proíbe a produção e distribuição desses “gorros”. A alegação: se alguém quer guardar os pensamentos para si, possivelmente está fazendo algo de errado.
Embora não tenham alcançado o poder, os “teeps” são vistos como peças importantes do governo (a Free Union) e possuem grande prestígio popular devido à sua capacidade de antever possíveis crimes e traições.
A população, medrosa e manipulável como sempre foi, tende a sacrificar sua própria liberdade por uma promessa ilusória de segurança.
Walter Franklin, um nomeado do governo, recebe esse capuz e, ao usá-lo, é acusado de subversão e forçado a fugir. Nessa fuga, ele conhece o “fabricante de gorros” titular, James Cutter, e descobre um segredo que pode pôr fim aos planos dos “teeps” de tomar o poder.
Não há nada que Philip K. Dick escreva que não consigamos ver com clareza hoje. Quando digo que a ficção-científica está mais próxima da religião do que do cientificismo, me tiram de louco.
Existe em toda boa história de ficção-científica um aspecto de profecia.
Nelson Rodrigues dizia que os profetas são profetas por enxergarem o óbvio. O que está óbvio neste conto de Philip K. Dick é uma exata especulação do futuro através de uma observação do passado.
A facilidade com que vemos a população jogando fora sua liberdade e aderindo às restrições mais proibitivas por uma promessa de segurança é algo que vemos repetidamente na história (aliás, estamos vendo isso hoje). Os mecanismos são complexos, mas a fórmula é simples: basta saber manipular o pânico e o legítimo instinto de sobrevivência de cada indivíduo da massa para tê-la em suas mãos.
Conhecendo como funciona a psicologia das massas, imploraríamos para sermos governados pelos “teeps” – e perseguiríamos todo aquele que anseia por “não fazer parte”.
Episódio 5: The Hood Maker (Electric Dreams, Amazon)
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É impressionante a incapacidade de alguns diretores e roteiristas desta série em ler e adaptar Philip K. Dick.
Os teeps aqui são vitimizados como pobres criaturinhas marginalizadas que apenas querem reinvindicar o direito de invadir a mente das outras pessoas. Os grandes antagonistas aqui são os que vestem o capuz e que desejam preservar sua privacidade. Nada pode ser mais distante do espírito do conto original do que isso. “The Hood Maker” da Amazon é a antítese de “The Hood Maker” de Philip K. Dick.
Todo conteúdo político do conto original foi diluído num romance doentio onde uma pessoa precisa se desculpar com a outra por querer manter seus pensamentos para si mesma.
O diretor Julian Jarrold e o roteirista Matthew Graham devem ser daqueles homens que dão a senha do próprio celular para suas esposas e permitem que elas mantenham as suas em segredo.