“Humano é” é um conto de ficção científica de Philip K. Dick, publicado pela primeira vez na revista Startling Stories em 1955.
O enredo gira em torno da crise enfrentada por uma mulher chamada Jill Herrick, cujo marido, Lester, um toxologista, retorna de uma missão de pesquisa ao planeta moribundo Rexor IV.
Lester é mostrado como uma pessoa difícil. Não só é implacável e obcecado com seu trabalho, mas também é cruel, exigente e abusivo.
Por conta da personalidade fria e emocionalmente corrosiva de Lester, Jill estava determinada a se divorciar assim que ele voltasse.
No entanto, Lester volta outra pessoa: amável, tolerante, carinhosa e engraçada.
É revelado ao longo do conto que o corpo de Lester foi tomado por uma criatura rexoriana, que controlava sua mente.
Os rexorianos são uma raça muito antiga e estão em vias de extinção. Possuem corpos fracos, mas capacidades psíquicas extraordinárias. Eles utilizam esse mecanismo de invasão de mentes para poderem fugir de Rexor IV e terem uma chance de sobreviverem em um lugar melhor.
Eles não destroem seus hospedeiros, apenas trocam de lugar com eles.
A mente de Lester estaria ainda viva, suspensa em algum lugar no agonizante planeta.
A criatura, feliz por ter escapado dos confins de seu planeta exânime, torna Lester essa pessoa agradável e apaixonante.
Jill, no meio do conto, descobre que seu marido abusivo foi trocado por uma versão alienígena muito mais amável. Depois do impacto da descoberta, ela passa a viver num dilema entre denunciar o sequestro para as autoridades e buscar seu marido de verdade em outro planeta – ou viver uma fantasia agradável da qual ela se apaixonou, mesmo sabendo das condições artificiais do cenário novo.
Dentre as várias possíveis interpretações deste conto, incluindo justas condenações morais a Jill, “humano é” desloca seu significado do eixo ontológico (humano é o que humano é) para uma definição de sustentação mais prática (humano é o que humano faz).
Invasões de corpos costumam ser histórias de terror. Neste conto, vemos um conto satírico e moral onde somos levados a torcer para o sucesso da criatura parasitária (e questionarmos se isso é certo).
Philip K. Dick pega um clichê da ficção científica e o vira de cabeça para baixo, manipulando o leitor a desafiar a todo momento as convenções do gênero.
Não apenas isso, autores como Isaac Asimov e Philip K. Dick gostam de fazer brincadeiras epistemológicas e desafiar os limites de nossa adesão automática aos conceitos de bem, mal, humanidade, inteligência e consciência.
Apenas por esse exercício, vale a pena dar uma conferida.
Episódio 3: Human Is (Electric Dreams, Amazon)
⭐⭐⭐
O que vou dizer agora é perigoso, especialmente se vocês considerarem que a originalidade de uma obra não pode, em nenhuma hipótese, ser maculada – então, nem leia as linhas abaixo.
Eu considero a versão de “Humano É” da Amazon melhor que o conto original.
O problema é que eu não gosto tanto do conto original, embora eu reconheça sua genialidade.
A diretora Francesca Gregorini e a roteirista Jessica Mecklenburg se mantiveram fiéis ao conto colocando algumas pequenas mudanças que destoram um pouco da obra original. Essas mudanças, longe de perverter a obra, enriqueceram-na de alguma forma. Como o conto está em uma perspectiva feminina, a personagem principal se torna mais convincente quando recebe de duas mulheres seus rearranjos.
A cena do tribunal também foi bem satisfatória em minha opnião.