“Foster, você está morto!” é um conto de ficção científica escrito por Philip K. Dick em 1955, publicado pela primeira vez na Star Science Fiction Stories No.3.
A história se passa em 1971, quando a grande maioria dos cidadãos americanos possui “abrigos anti-bomba particulares” e apoia financeiramente os preparativos para uma possível guerra nuclear em sua cidade. Novos modelos de abrigos “melhorados” são lançados e comprados todos os anos (como aspiradores de pó ou automóveis) porque os soviéticos supostamente desenvolvem a todo momento novas tecnologias e novos métodos de ataque a esses abrigos.
A narrativa gira em torno de Mike Foster, o filho adolescente de um “anti-P”, movimento de forasteiros que se recusam a participar desses preparativos, argumentando que o complexo industrial militar está apenas criando medo para vender mais abrigos antiaéreos – um bando de conspiracionistas (é o que dizem).
Mike, no entanto, vive com medo de não ter acesso a um abrigo quando a guerra começar e é considerado um pária social devido às posições políticas de seu pai.
Finalmente, o pai de Foster desiste de sua resistência e compra um modelo de abrigo antiaéreo totalmente novo e caro.
Logo depois, aparecem notícias de que os soviéticos desenvolveram uma nova técnica anti-abrigo, deixando todos os modelos recentes totalmente vulneráveis, exigindo um novo “adaptador” para tornar os modelos atuais seguros novamente.
Esse conto nasceu depois de Philip K. Dick ver uma bizarra manchete de jornal relatando que o presidente dos Estados Unidos sugeriu que os americanos deveriam comprar seus próprios abrigos antiaéreos.
A história é tanto uma sátira ao consumismo quanto ao marketing que cria problemas para vender soluções. Além disso, a narrativa explora a crescente ansiedade da Guerra Fria nos Estados Unidos.
No entanto, esse conto parece não querer morrer no contexto da Guerra Fria. Está longe de ser datado.
Philip K. Dick demonstra o quão bizarro e disfuncional é uma sociedade baseada no consumo e no medo. Sua crítica sinaliza a postura cínica de marketeiros que exploram os mais básicos instintos de sobrevivência e amparam seus argumentos com cálculos crassos de obsolescência planejada e omissão proposital de informações.
“Compre ou morra” é uma das sentenças que aparecem no conto. O argumento de venda definitivo, pois salta as meras questões de futilidade e capricho. Comprar é uma questão de sobrevivência. É um argumento que consegue vender tudo.
Episódio 6: Safe and Sound (Electric Dreams, Amazon)
⭐⭐⭐⭐
Baseado no conto “Foster, You’re Dead”, o episódio da Amazon relacionado é “Safe and Sound”, dirigido por Alan Taylor e roteirizado por Kalen Egan e Travis Sentell.
Em uma distopia de futuro próximo, os Estados Unidos estão divididos entre cidades “seguras” de alta tecnologia e histericamente paranoicas, e comunidades “bolha” onde as tecnologias invasivas são rejeitadas. Uma representante da “bolha” muda-se com a filha para a cidade grande.
Enquanto a mãe tenta negociar um tratamento melhor para as “bolhas”, sua filha luta para se adaptar à vida escolar, às peculiaridades sociais e às tecnologias difundidas ao seu redor.
Sem apelo sexual barato ou roteiros preguiçosos, “Safe and Sound” é um dos pontos altos desta série.
Os envolvidos neste episódio conseguem adaptar o conto original com outra história, no entanto, mantendo suas características principais: a eterna discussão entre segurança e liberdade, temperada com as ansiedades de adaptação da adolescência e a necessidade de pertencimento de grupo.
O interessante é que o conto original, mesmo escrito em contexto de Guerra Fria, consegue se adaptar a novos formatos e novos cenários facilmente. Isso se deve ao fato das perguntas “philip-k-dickianas” ainda necessitarem de respostas.
Em “Safe and Sound”, somos jogados para um ambiente higienicamente distópico, onde a maioria das pessoas abriu mão de suas liberdades pela conveniência de conforto e segurança. Cada cidadão vira uma espécie de policial da Stasi high-tech, onde cada um monitora o outro pelo “bem comum”.
Existe um cenário assustadoramente atual exposto aqui, que acusa os perigos da comunhão entre imprensa, o governo e as big techs.
Enfim, ótima adaptação.