Uma das figuras mais notáveis da cultura hitita é o “deus que desaparece”.
Na versão mais conhecida, é Telipinu, o deus da agricultura e da tempestade, filho de Tarhunna, o deus do tempo, e de Arinniti, uma deusa solar.
Na verdade, para ser mais preciso, podemos elaborar uma espécie de “contrassenso poético” para defini-lo com maior precisão. Podemos dizer que ele é o “deus que é percebido quando desaparece”.
A presença deste deus é o que, segundo a mitologia, garante a estabilidade do mundo. Quando ele está conosco, existe a normalidade e essa normalidade nunca é percebida. Quando este deus desaparece, “o fogo se apaga, a ovelha abandona seu cordeiro, a vaca abandona seu bezerro e a cevada e o trigo não amadurecem mais”. Temos a ruína e, logo em seguida, percebemos seu desaparecimento.
Isso é quase uma definição proto-agostiniana do “mal como ausência”.
As maiores recomendações para honrar Telipinu não eram por meio de sacrifícios ou rituais, mas sim por sua veneração nos dias normais, nos dias de estabilidade, agradecendo-o pela comida e pelo sono de cada dia. Temos muita dificuldade em agradecer por isso, pois achamos que isso é o que nos é devido. Temos uma tendência a não nos contentarmos com as coisas como são e uma dificuldade absurda em fazer um esforço ativo e diário para lembrar que nossa condição é, sempre foi e sempre será, de devedores.
A perspectiva cristã é diferente no sentido de que Deus é algo que nunca se ausenta, mas percebi que o ensinamento é basicamente o mesmo. Uma das coisas que São José Maria Escrivá ensina, com muita ênfase, é a importância de perceber Deus no cotidiano, não apenas para reconhecer o “salvífico” no que é comum, mas também para redobrar nossa atenção de que tudo nos foi dado como empréstimo.